Se você ainda estivesse aqui, me levaria pra casa? Me pegaria pelas mãos e me indicaria uma nova direção? No caminho, sei, me diria que tudo vai ficar bem e secaria o meu pranto. Você poderia ir me contando um tanto das suas histórias antigas também. Me colorindo um pouco com seus tons que já conheço de cor. Andando ao meu lado, eu saberia entrar no seu passo. Eu te abraçaria pelos ombros e, quando passassem meus soluços, contaria um pouco sobre a vida com a dor de não te ter. E você me ouviria com atenção, com o dedo sobre a boca e os braços se apoiando. Enquanto seguíssemos sob o céu azul, de uma tarde comum, te juraria não permitir que se tornasse apenas dor o que já foi meu norte.
Seria um breve desabafo sobre amar, sempre, saudades, pavor... Te contaria que há pouco descobri que nenhuma perda se cura por completo, basta uma coisa maior para que ela volte a apertar. E que ela (a dor) faz parte do que a gente constrói até mesmo em outros terrenos. Falaria que há tanto de você em mim que sua ausência também se tornou o que sou. Me tornei menor depois que conheci a grandeza da sua falta. Talvez, sentindo sua segurança, eu saberia recuperar minhas certezas. Eu te ajudaria a desviar das calçadas irregulares enquanto estivéssemos a seguir. Você me ensinaria a olhar com mais cautela para os lados antes de me decidir.
Eu iria querer reparar no céu que você insistiria em me mostrar. Os detalhes em todas as nuvens que não se repetiriam mais - assim como nós. Nada nos escaparia. Sempre soubemos nos envolver com nossas trocas. Você poderia me prometer que não iríamos nos cansar de continuar nossa caminhada? Não haveria uma estrada sequer para apenas um par de nossas pegadas. E, se o anoitecer se antecipasse e nos levasse a luz, sei que nada nos paralisaria. Seríamos as mãos apertadas enfrentando o que não se pode ver e se guiando mesmo sem reconhecer a trilha.
Buscaria seu cheiro, só para confirmar que não o esqueci mesmo por um dia que se foi nesse último ano. Você deixaria eu ficar por um tempo a mais com o nariz perdido no alto da sua cabeça? Murmurando, além de direção, te pediria cuidado. Teria que te contar como sinto falta da garantia de ter seu olhar, sua aprovação, sua orientação. Não choraria mais nessa hora. Daria um jeito de poder te assegurar umas boas risadas ainda. Fossem frouxas, de encher os olhos d'água, fossem perdidas, misturadas a quaisquer conversas.
Ah, quem me dera ter um pouco mais da paz de estar com você. Hoje, sem poder te encontrar, preciso aprender a vestir sorrisos, não mais sê-los.
Nenhum comentário:
Postar um comentário