Engraçado como foram nas palavras, num conjunto bem talhado
delas, que me encorajei a te escrever. Ainda se lembra de como gostava de todas
as formas e maneiras como eu as reunia?
Bem, talvez, agora, seja necessário nos apresentarmos. Não
sei mais como você anda e você também não me encontraria do mesmo jeito. Já não
caminhamos juntos para fazer com que tudo dê certo.
Ainda amo filmes, durmo próximo à parede, continuo metida a
independente, levo tempo demais me arrumando, mas to melhor na direção e tenho
cabelo mais curto. Ah! Sabe aquela conversa que tivemos, voltando de algum
lugar, quando você disse que eu passava pouco tempo em casa? Te ouvi.
Não te evito mais. Quando um lugar me traz sua voz, escuto
tudo o que ela já me disse. Não me incomodo mais em rever uma cena que
assistimos juntos, enrolados num cobertor (ele era mesmo azul?). E lembra o
livro que me deu? Retomei a leitura, acrescenta à minha profissão. Não me
assusta mais a sua presença, nem a sua ausência.
Mas, e sobre você? Já largou o cigarro? Ainda se preocupa
com as entradas em seus cabelos? Continua preferindo o ovo mole no sanduiche? Se
mantém atento querendo agradar todo o mundo? Te ver tão sem maldades espremia
os meus defeitos.
A vida continua. Dei chances a uns dois ou três, mas essa
tal de “a fila anda” ainda não foi muito longe. Na verdade, nesse aspecto, nem me
esforcei para sair do lugar. Você sabe que sou tão teimosa quanto você costumava
ser (e não mudei muito nisso), só que, hoje, nada mais se faz tão consistente,
nem a voracidade dos motivos que nos impuseram desistir.
E quando, enfim, o fim tiver completado sua paixão, contarei
a alguém sobre você e como o amei naquela noite em que dividimos o céu pela
janela. Acho que até mostrarei aquele punhado de palavras em que nos
eternizamos. Da saudade, recorrerei somente à doçura.
As coisas foram boas. Foram sim. Conjugadas naquele passado.
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