Tinha
ouvido em vento o que explodira pouco antes da certeza. Nem sabia ao certo como
chegou ali, trôpega em sonhos, embebedada em dúvidas, esgotada de corpo e alma.
O sussurro quente demorou a desfazer-se dentro do espaço tão familiar e, por
horas, tangeu o pedaço de sol que entrava pela cortina esquecida aberta. Preferiu
não mudar nada naquele cenário, a brincadeira entre brisa, tecidos e raio de
luz.
Escorregou
até o piso frio e sentiu um estranho conforto percorrer-lhe a pele. A
claridade, já não tão abundante, soou concordante com a penumbra que a calou.
Havia aprendido com crepúsculos e, antes de perdas, proibia-se afastar do
brilho em seus olhos. Lágrimas não mais a sufocavam.
Do
chão, percebeu o quanto destoou aquele lugar, desencaixou-se sem notar e perdeu-se
no roteiro. Não era ela. Não era dela. As paredes, coloridas pelo tempo, enclausuraram-lhe
o fôlego e, ofegante, não escutou o que por toda vida disse a si mesmo.
Viu
pares de sapatos e roupas usados e esquecidos fora do armário, a porta que
deixou entreaberta, a dança do seu coração que pulsava tão fora do ritmo e
chegou até a ver os estilhaços do que restou. Nesse momento parou. Ficou com
medo, com dúvidas e esqueceu-se de respirar. Não quis mais abrir os olhos e ter
que olhar de novo o que sobrou, poderia ter sido pouco demais para sobreviver,
poderia ter sido grande demais para morrer.
Só
que não resistiu, percorreu com os dedos sobre onde mais doía. Passeou entre
lembranças e então percebeu que se enganou quando encontrou os bons momentos. Foram
eles que latejaram. Sentiu que as queixas por desafeto fizeram menos barulho
que as trocas de olhares e que a ausência de planos nunca lhes afastaram as
mãos. Soluçou em seu pranto velado.
Foi
quando ela notou que o chão não era o mesmo, que os embalos da cortina abandonaram
a graça e que a sombra desbotou a luz. Não relutou. Naquele momento sentiu que não
cabia ali e que, talvez, sequer coube por uma só estação.
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