Senta aqui, do lado de cá. Não quero olhar seus olhos, eles não são mais nada para mim. Eu preciso, na verdade, me desculpar pelo monstro que te tornei. Ele também tem me assustado. Nunca foi minha intenção contribuir para que se tornasse essa pessoa tão mesquinha e vazia. Não, não comece a falar. Ainda não terminei.
Faz algum tempo que não sou mais seu número. Cresci. Você, não. Não sei se por não querer, ou não poder, mas o fato é que me tornei maior do que pode suportar. Maior até do que já pude supor, confesso, do tamanho dos sonhos que posso construir. E Deus me livre de voltar a ser menor. Quanto ao mérito por esse crescimento, não vou te dar. Nem um grama. Ele é todo meu. Eu me forjei. Eu fui forjada.
Eu quis sair desse lugar te aplaudindo pelo ser que foi há algum tempo. Quis deixar minha mão pendente para segurar uma amizade. Quis saber se as coisas ficariam bem com você. Mas, com tudo que chegou a mim, não preciso. Na realidade, mais do que isso, você não merece, não com todo esse desejo de me machucar. Não merece sequer se tornar uma lembrança gostosa, uma saudade qualquer. Decidi que tudo que preciso manter de você hoje em dia é aquela carta, com letras marcadas, em que tentou destilar toda sua pequenez contra a minha autoestima. Preferi ser compreensiva à sua dor e imaginar que uma agressão tão gratuita só poderia vir de quem já traz feridas muito feias consigo.
Acho uma pena que não exista orações e estrofes mais bonitas para desenhar o que nos aconteceu. Acho mesmo. Entretanto, se tivesse conseguido vislumbrar tudo que me vem agora, talvez não tivesse te blindado de toda a minha frustração com silêncios, olhares ou súplicas antes. Você me subestimou ao me colocar como alguém que aceitaria viver só com o seu desamor por toda vida. Até tentei, realmente, em todas as vezes que insisti "porque a gente tinha construído um laço", que continuei "até pelo menos por mais alguns anos quando as coisas deverão se acertar" e que engoli minhas dores "porque seu jeito era assim mesmo".
Há algumas marcas por aqui, e faço ideia do que se tornarão. São cortes profundos demais, talvez virem cicatrizes grandes demais. Contudo, ouvi de alguém, que tem sentimentos mais bonitos por mim que qualquer coisa que você já conseguiu nutrir, que "cicatrizes nos constroem! E a gente usa esse amor aqui pra ajudar a cicatrizar". São essas as certezas que têm me ajudado a seguir pelo que sempre fui, alguém que se move por afeto
Não, não tem nada a ver com ressentimentos este nosso reencontro. Nunca fui do sabor amargo, você já me provou por muito tempo para saber que, mesmo com mil defeitos, esse não faz o meu estilo. Eu não me importo mais com o que você constrói ou se permite. Nenhuma destas minhas palavras, sinceramente, querem te culpar. Não entenda esta conversa desta maneira. Tudo que estou te falando é para o meu próprio bem, do qual já havia me esquecido desde quando comecei a me contentar com esse nada. A minha maior sorte tem sido, mesmo recebendo tão pouco de você, não me julgar incapaz de conseguir mais. Meu caminho é cheio de amor, o seu, da incapacidade de amar.
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