Vou ter que contar uma coisa triste para você, meu estimado leitor (é, aqui, pela flexão nominal de gênero, já deu para captar que o texto busca conversar com homens). O mundo é moldado, em sua maioria, para te atender, mas ele não é seu. Olha que loucura! O mundo não é seu, apesar de você ser homem e hétero. Não precisa me ofender agora, até porque o termo "feminista" não é ofensa, é, resumidamente, a nomenclatura de uma corrente que luta pelo fim da dominação de um gênero sobre outro (mas você já sabe disso porque é alfabetizado e tem acesso a muitos bons conteúdos, não é mesmo?).
Vamos lá! Mantenha o seu coração aberto antes de fechar esta página e sair falando mal de mim pros "man". Vou começar sendo cruel logo, tá? Você não é tão foda quanto pensa. O único pica das galáxias que eu conheço é Thanos, pelo motivo óbvio de ter conseguido reunir todas as Joias do Infinito (claro que eu tô torcendo para ele perder este título no próximo filme - sim, me perdoe, só amo a Marvel como filmes, dediquei minhas leituras de gibis na infância à Turma da Mônica - que meus primos tinham assinatura e eu amava ler no vaso sanitário). Você não é tão foda quanto pensa, mas você pode ser foda, sim! O que eu tô querendo deixar claro aqui é que você não é muito foda só por ser homem. Você pode ser muito foda por traços da sua personalidade, por sua inteligência, por sua empatia com as outras pessoas, enfim... Não é ser homem e hétero que te dá a capa do Superman. Você precisa mais que usar o seu pinto em relações sexuais - com mulheres, no caso - para ser alguém digno de admiração.
Vocês, homens, podem até não ser todos iguais, mas têm em comum algo que rege suas vidas: vocês nasceram num espaço que busca sempre fazer com que vocês estejam confortáveis. Confortável quando você trai e isso faz parte do seu instinto, não da sua falta de caráter - quanto à mulher, puta. Confortável quando você não mensura os impactos de violar a intimidade de uma pessoa (mulher também é pessoa) que confiou em você algum momento e compartilha isso com os "brother" - quanto à mulher, puta ou burra - geralmente, os dois. Confortável quando não precisa se preocupar com a risada no final da fala ou a piada sem graça durante a entrevista de emprego - quanto à mulher, puta ou louca, depende de como ficou a contratação. Confortável quando tem liberdade para escolher o quê e como fazer as coisas em seu próprio corpo - quanto à mulher, com certeza, putona. Confortável quando tem mil razões que substanciam sua violência sexual - quanto à mulher, puta porque estava na rua, puta porque bebeu, puta porque dançou, puta porque queria e desistiu, puta porque é uma criança que brinca com seus filhos, puta porque é puta. Ponto.
Sério, amigos, aproveitem que estão sendo privilegiados - privilegiados em seus salários e chances de crescimento profissional, em seus papéis dentro da reprodução humana, em poder andar livremente pelas ruas - para ter mais a oferecer ao mundo que conceitos repugnantes e subestimados sobre o que imaginam ser mulher nesta nossa terrinha. Nós, fêmeas, temos motivos reais e constantes para enxergar vocês como ameaças, mas não o contrário.
womansplaining: Este texto usou recursos de ironia em seu desenrolar e não tem intenção de acirrar uma "guerra dos sexos" - porque essas disputas de que menino é melhor que menina, e vice-versa, ficaram na minha infância. Hoje, tenho conhecimento para argumentar questões de gênero com um pouco mais de conteúdo, engajamento e, claro, sem a professora para me puxar da briga com algum coleguinha.
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