Fecha a porta enquanto eu me aninho em sua cama. Vou olhar com desejo para as suas costas nuas e pensar num modo rápido de jogar sua toalha verde no chão do quarto. Deixa a televisão ligada, pouco me importa sobre o que ela canta no meio da noite, nós não vamos perder tempo pensando em tudo que nos levou até ali. Deixa eu te ouvir, mesmo sem dizer nada, só para não perder o encanto de te ver talhando qualquer frase boba com barulho de certeza.
Não vou segurar o riso, escapando de lado, quando você se desentender com o fecho sob minha camiseta. Mas vou esperar até você começar a reclamar antes de mostrar que é melhor recorrer à destreza que à urgência. Minha atenção, de qualquer forma, vai se voltar para cada centímetro de pele a ser tocado por nosso prazer. Enlaça meus cabelos soltos ao me buscar, prendendo seus olhos nos meus. Minhas mãos também não irão deixar que se afaste. Neste instante, já estarei rendida à dança que você ritmar. Nossos corpos se entendem melhor que nós.
Entre aquelas paredes já conhecidas, nossas curvas se aceitam, sem risco de promessas e versões vãs. Tira meu fôlego com a sua boca, não me importo em perder o ar em sua nuca. Apenas nos deixando levar, tanto faz quem dominar a cena. Enquanto tudo em você me devorar ferozmente, por dentro, não haverá uma porção de mim que não irá querer te prender ao que sou. Sei que caibo em suas mãos, que logo se reconhecem como parte da textura macia da minha tez, por isso não vou me esquivar das suas tentativas de me conter.
Reconheço o perfume da sua pele, saída de banho quente, e vou buscá-lo até me impregnar. Não quero que você se negue a uma vontade nossa que seja. Não há perdas quando a rendição é ao que queima. Por isso, vez ou outra, buscarei um jeito de encontrar seus olhos em meio à nossa desordem - eles sabem o que me dizem, você, não.
Solta seu ar sobre mim, respira pesadamente sobre o meu ouvido. Você sempre se perde quando toco sua fúria, seu medo, sua loucura. Não há espaço para desencaixes quando nos rendemos, só nos resta a vontade de ser. Ser exatamente o que não se poderia ser em qualquer outro lugar. A imprevisibilidade das nossas reações não nos paralisa, é exatamente o não saber o que virá que nos faz querer mais: mais de nós sendo laço.
A minha intenção ficará clara quando desafiar os seus sentidos. Mesmo sem saber o que se passa por sua cabeça, sei ler o que seu corpo espera. A pouca luz sobre nós não vai me impedir de atiçar todos os seus poros - já que me perder no que possuo de você acaba se tornando minha brincadeira favorita. Recorro ao que te causar arrepios, sussurro o que te desmanchar, derramo o que incendiar o seu ser. A essa hora, nenhuma barreira resistirá à nossa entrega.
Não vamos nos incomodar com a bagunça e o depois. Deixa o lençol desalinhado, nossas roupas esparramadas, nossas urgências esquecidas. Só espero que se lembre de estender seu braço para eu me manter aquecida, entrelaçada ao que sobrou de nós. Não precisaremos de mais nada. Nada além de escolher um filme para o fim da noite e um jeito para recuperar nossas forças. Seu gosto de caos e meu cheiro de ilusão dispensam o que tentar ultrapassar esse jogo.
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