Pessoas
acabam desistindo das outras. Soa pesado? Nem tanto. É cíclico e não acontece
por mal, nem por extinto de usurpação, nem por frivolidade, nem desapego... Sua
causa é muito mais implacável: distância.
A
amiga que vivenciava cada capítulo daquela sua estória mal entendida, por meio
de horas de desabafos ricamente detalhados, e recriminava seu descontrole, sem
medo de se tornar incompreensível, se casou, foi morar fora... A amizade
prevalece, uma continua podendo contar com a outra, só que agora, quem antes
dividia com você o mesmo período de TPM, além de saias altas, secador,
esmaltes, pães com presunto, compartilha apenas alguns minutos de ligações
mensais numa consistência quase tão rala quanto sopa instantânea. Essa é a distância física.
O
antigo namorado, que conhecia o jeito certo de pedir seu suco (de acerola bem
gelado e com açúcar), dominava a arte de te abraçar pra dormir, sabia qual era
a marca do seu shampoo, depois de alguns meses do término, se passa facilmente
por um estranho dispensável. Loucura? Bem, depende do seu posicionamento. Essa é a distância sentimental.
E
não é de propósito. A vida cria esses percursos, traz novas ocupações às
pessoas, novas preocupações, novos papéis e transforma as tardes divididas, de
filme e pipoca, em horas de trabalho, seja lá qual for sua espécie. A distância,
quando se impõe, é o desgaste natural de relacionamentos, seja construída por
quilômetros, seja estabelecida em palavras, ela acaba sempre afrouxando o
interesse.
Me
desculpe os que pensam (e vivem) o contrário, mas distâncias, espaciais ou
emocionais, não fazem bem à manutenção de laços. Os céus compartilhados, as
caminhadas ao mesmo destino, os comentários sobre os sonhos da noite passada,
as discussões sobre o final de um filme, ou o meio de um livro, os esbarrões na
cozinha apertada, as horas escolhendo um look para a festa, a
convivência com frustrações, o ombro para poder desmoronar, precisam acontecer.
Ah! E tem o cheiro, que se torna identidade, e as brigas (nas versões saudáveis
e esporádicas) também. São essas coisas que geram a tal necessidade e alimentam
a cumplicidade. #ficaadica
E o mesmo vale para aqueles que estão pertinho, ao nosso lado, mas por algum motivo passam a se fazer ausentes.
ResponderExcluirMuita verdade escrita aí! E às vezes dói ao admitir isso (e lembrar daqueles que ficaram do outro lado da distância...)
E essa dor se chama saudade, Sâmia.
ResponderExcluirMas, um dia, diminui sua intensidade e sua constância.
Um beijo (: