terça-feira, 22 de abril de 2014

Não veja tudo como perda

Com o tempo, você não vai sentir mais falta das birras ou da maneira como ela fazia tudo acabar em risadas. Mas, não se verá totalmente livre do incômodo por tê-la perdido. Assim como todos os outros que já foram alvos do seus planos, você vai se angustiar ao vê-la de longe, apenas como um mero espectador, mesmo que já tenha se passado dois, quatro ou sete anos, ela é do tipo que irradia expectativas e convida a novidades. Você terá que esconder toda essa gastura que dá em ficar sem falar sobre qualquer outra coisa que não esteja ligada a ela. Mas, vai passar. Você já viveu coisas bem piores e, mesmo assim, olha aí onde chegou.

Talvez você nem saiba, e jamais desconfiaria se não te contasse, mas, em todas as vezes que ouvia o barulho do seu carro, ela sorria, e sorria num riso secreto até escutar a chave na porta. Parava sempre antes da sua entrada e se fingia surpresa, ou surpreendia, pela intromissão da chegada. Por dentro, continuava a sorrir enquanto se derretia num toque de lábios. Se você visse aquele sorriso, garanto, não seria tão rápido nos beijos de reencontros. De qualquer forma, não se sinta mal por isso. Aposto que os dias vinham sendo bastante corridos e tudo o que você mais precisava era de banho quente para relaxar. 

Ela queria segurar sua mão quando sentia medo, ela quase sempre sentia isso, mas, poucas vezes deixava que a descobrisse de tal forma. Espero que você tenha ao menos notado quando o medo gritava de seu coração, ainda que ela fizesse charminho por baratas, escuro, trovões ou celulites, sempre levou uns dois ou três pavores que lhes eram intimamente doídos. Bem, se não os notou, também não se culpe. Não seria mesmo o seu papel e ela, menina que às vezes se pintava, já sabia muito bem disso.

Ah! Quase me esqueci! Sobre aquelas dezenas de potes de óleos e cremes, dos quais você nunca entendeu e tanto reclamava por ocupar o seu armário, eram para você, para que, a qualquer toque, cada pedaço de pele se fizesse ainda mais macio ao seu encontro. As discussões e apaziguamentos cabiam, além de no mesmo minuto, no mesmo colchão, e ela nunca gostou de ser pega desprevenida. Agora, pode aproveitar tudo, o espaço voltou a ser todo seu.

Pois bem, vou revelar um último segredo: ninguém consegue dominar todas as regras. Os homens que ela já jurou ser o cara de sua vida se tornaram mesmo, de algum modo. Apesar de qualquer coisa, ela continua romântica demais para poupar todos os seus casos do amor. E, quanto a isso, nada de preocupações, não será muito diferente com você. Vez ou outra, lembrará de um céu que dividiram e se inspirará para levar alguns versos ao papel. Sortudo.