domingo, 28 de outubro de 2012

Teu silêncio

Teu silêncio me acalma. A cantiga que traz o teu olhar não ofusca minhas palavras, tua canção é meu afago. Sem horas, sem dores, sem remorsos ou rancores. Não há pressa nem medida nessa entrega. O sentido encontrado em comum, nas mãos que se captam numa falta qualquer, despreza o que resvale ao incomum. 

Teu silêncio me completa. Um refúgio concreto, selado em teu peito, ditado num desígnio desse ciclo compassado. A certeza de que, porque o pranto sempre vem, haverá consolo. 

Teu silêncio me desafia. Não me cala, me encalça numa direção. Na sua direção. No hábito de um sorriso que sucede e ampara passos trôpegos de uma frase mal pensada, de um ato imediato. 

Teu silêncio me acerta. Em cheio, no ponto. Não é remediável nem indesejado, ele não se faz insípido, não parece entorpecido. E as palavras, quando presentes, em seu tom, tornam-se tangíveis, crescentes. 

Teu silêncio me dedilha, me faz letra exata nesse ritmo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Do sapo ao príncipe é só interpretação


Não existe UM príncipe, existe O príncipe. Diferença? Recorrendo ao meu exemplo favorito, o Shrek é o par perfeito para a Fiona, mas não faz o tipo da Rapunzel ou da Cinderela. Num consenso geral ele não é um príncipe, ele é o príncipe da ogrinha verde.

Aquele carinha que deitou e rolou, pintou e bordou, hoje se tornou um exímio pai de família, apaixonado pela esposa. Ele foi o seu sapo, mas aprendeu se portar como um membro da realeza agora. Quanto ao príncipe que te realiza, ele já arrancou lágrimas de outra pobre donzela. Ele não sabia dar tanta atenção a ela, ou não conseguia ser fiel, ou não queria nada sério...

Não deve acontecer por meio de magia, mas, talvez, a fada da ironia tenha uma forte influência no resultado final. Geralmente, quando um ex-rolo/namorado/noivo/marido é afamado com a expressão “o mundo gira” é sinal de que ele está tentando mudar de papel. Quando dá certo pra ele, ele se adéqua a todas as exigências do Inmetro e vive um romance. Quando dá certo pra afetada, o ele em questão assume o papel que ela interpretou por algum tempo (e é melhor ainda quando ele troca de papel exatamente com você e você já não está nem aí pra ele. Dá mais efeito à expressão acima).

O que eu to tentando dizer é que ninguém é príncipe em tempo integral e em todas as histórias. É assim na vida real, o sentimento é que dá o título, seja ao bobo da corte, seja ao herdeiro do trono... #ficaadica

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Como se faz um galã


Eu tinha vários temas em mente (uma D.R. com o namorado, uma conversa inspiradora com um amigo, o final de Avenida Brasil, o filme brasileiro “E aí, comeu?”...), mas o programa da Ana Maria Braga me fez repensar em minhas prioridades literárias. Hoje o convidado para o café da manhã foi o Rodrigo Lombardi. Rodrigo, esse, que “rejeita o rótulo de galã”, segundo matéria publicada pelo O Globo. Calma, vocês já vão entender onde eu quero chegar.

O cara consagrado por protagonizar os sedutores Raj (Caminho das Índias), Herculano (O Astro) e agora parece que vai bombar como o capitão Théo (Salve Jorge) não se acha galã. Enquanto o carinha que você deu o fora no bar se acha irresistível ao ponto de te chamar de metida por você não ter se rendido aos seus 40 kg distribuídos no seu 1,50m de altura dentro do seu belo carro que você nem sabe dizer o nome. Apenas. (Calma, ainda não cheguei onde quero!)

Sim, meu momento agora: o que torna o homem um galã? (Porque a gente já sabe que, inicialmente, a mulher precisa ser linda e gostosa para se tornar musa.) A moça que estava malhando ao meu lado concordou com a minha teoria de que o homem não deve ter o rosto simetricamente estruturado ou delicadamente belo. O fato é que somente a Branca de Neve e a Cinderela preferem o príncipe loiro, com traços finos e corpo esguio. E outra coisa (não se iludam), na vida real, carros e relógios importados não os tornam lindos (pelo menos para o grupo seleto de mulheres que não querem ascensão por meio de homens).

Portanto, sendo bastante específica para ilustrar minha teoria, Rodrigo Lombardi é o que é (um galã) pelo conjunto da obra (mais de 1,80m de altura esbanjando simpatia e carisma com um sorriso lindo num rosto másculo). Pra gente, o sorriso e o olhar masculino devem ter o mesmo valor que nossos peitos e bundas têm para os homens. Pronto. Quanto ao resto (a barriga de tanquinho, o Camaro amarelo, o Rolex...), não deve sair de consequência para motivo. É mais seguro. #ficaadica

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ressalva

Não haverá comprovações. Nem raios-X, tomografia computadorizada, mapeamento cerebral, nenhum procedimento que lhe dê garantias de que é real (bem que o próximo Nobel da área poderia sair com uma coisinha para resolver isso, né?). Tudo o que lhe resta é acreditar (ou não) no que parece ser. É, é sobre isso mesmo que eu estou falando: sentimentos.

Ninguém é perfeito, nem agrada sempre (inclua-se no grupo, please!). Em algum momento você topará com uma insegurança, uma incerteza, uma dúvida, um medo... só se controle para não virar desespero. Você não vai se tornar um apêndice contínuo da outra pessoa, entrar num relacionamento é pagar pra ver (o importante é ter cuidado com até que ponto vale a pena apostar).

Eu já disse isso aqui, mas, vale ressaltar que, sentimento não pode ser uma imposição. Você não consegue adestrar, obrigar, prescrever ou sentenciar esse tipo de coisa (e se você tenta, desista enquanto ainda há dignidade, colega! Até o muro de Berlim ruiu após décadas tentando imperar e você não precisa de uma queda assim).

Quanto ao resto, o jeito é mesmo ir. Sentimento é isso, né? Seguir o que lhe faz bem (quando isso supera o que não faz). Talvez essa incerteza seja apagada naquele abraço que te esquenta quando você sai, ainda molhada, do chuveiro. #ficaadica

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O que se sabe (sobre a saudade)


Premeditada, como um crime perfeito e obsoleto, arquitetado antecipadamente sobre tudo que abarca o óbvio. Faltará aquele perfume que impregna mais suas roupas que o seu próprio, as mensagens, mesmo que escassas, no meio da noite, a frieza das mãos que você busca roubar com seu calor e a intenção que não passará do que é: um desígnio. Faltará. Isso é saudade.

Acentuamos o sofrer por aquilo que será, que virá ou que irá, esquecendo que a dor personificada é sempre mais excruciante que o que foi. A saudade é a continuação do amor em sua divindade, que “em parte, conhecemos, e em parte profetizamos”, como sugeriu a provocação do autor Paulo em uma de suas cartas aos Coríntios. A continuidade do amor é a saudade e a materialização da saudade é o amor. E o amor em suas vertentes, e a saudade em suas vertentes. Isso já foi revelado.

A inquietação na alma, todo aquele estardalhaço físico que resulta em apatia, vazio que pesa, falta que preenche, impulso que paralisa... sim, a saudade não ultrapassa os limites de mais um grande paradoxo que rege a ordem universal.