sábado, 7 de novembro de 2015

O que eu preciso (ou não) ouvir

"Numa bolsa feminina? Não falta um belo batom nem um espelho para conferir rapidinho o cabelo." As coisas mudaram, caro amigo, e muito devido ao seu problema em taxar de maneira tão pequena quem tem tanto mais a oferecer.

Na minha bolsa, terá sempre um batom, e um espelho, e um creme para as mãos, e um protetor solar, e um pouco do dinheiro que ganhei trabalhando (você consegue acreditar que já fazemos isso sozinhas e muito bem por sinal?), mas, hoje, o item que não fica de fora da minha companheira de saídas é um bom par de fones de ouvido. E aposto que não consegue entender a razão ainda. 

Vamos para o começo? Que eu me lembre, sempre vivi neste planeta e é fato que, nesses 20 e alguns anos por aqui, a maioria das coisas mudou, uma parte para evolução, outra, retrocesso, outra, só mudou.E aí é que tá! Nos passos por esta terra, comecei a notar que tenho mais do que ser apenas "a que precisa aceitar o mundo", "a que deveria rir mais baixo", "a que tem que ser comportada como as outras meninas" e, principalmente, tenho bem mais para ser do que "gostosa".

Ainda não fui muito clara? Ok. Não saio de casa sem meus fones de ouvidos porque gosto de ouvir coisas bonitas. E como foi conquistado o direito de escolher o que ouvir pelos fonezinhos, me esbaldo por não precisar conviver com tanta coisa feia solta por aí. Porque as piadas no trabalho sobre a dominação que o homem deve ter sobre a mulher ecoa no mesmo discurso de alguém que "até entende" o marido ter matado a mulher infiel dentro de casa. Porque a cantada recheada de vulgaridade me traz na mente imediatamente o fato de que vivo num país onde posso fazer parte da estatística de que acontece um estupro a cada onze minutos. Porque o fato de você querer restringir a minha capacidade à limpeza de casa baseia a perseguição do louco que se acha no direito de me violar por me notar como algo vulnerável. Porque sua afirmação de que mulher deve ter sempre um salário menor mexe lá naquela parte de mim que morre de vergonha por gostar de se arrumar e se assumir vaidosa sem precisar ser taxada de fútil ou "conquistadora".



São os fones de ouvido, que não saem mais de perto de mim, que me fazem ter forças para encarar as avalanches de estupidez que me são lançadas todo o tempo. Não conseguiu entender? Não precisa se esforçar muito se não quiser. Dificilmente saio de casa sem bolsa mesmo. #ficaadica