Devido à empatia que leva
alguém a se tornar leitor de algo, antes que comece sua leitura, preciso dar um
aviso: este é mais um texto não consensual sobre mulheres. Ah! E também não é
sensual.
Nunca entendi o fascínio que causamos às palavras. Ao mundo, sim. Às
palavras, não. Ainda que cantadas, rimadas, pintadas, mulheres acabam sempre
como as melhores escolhas para inspirações. Mas por quê? Não, não crie
expectativas, nunca me empenhei a decifrar tal drama, modéstia à parte, caímos
muito bem a enredos artísticos, soa bem assim. Sou parte dessa classe
inesgotável, que não pode deixar de ser ou de fazer. Clichês ou não, já
fomos tão bem descritas nas travessuras de Vargas Llosa, tão desnudadas em
versos de Vinícius, tão bem cantadas nos olhos de Chico e, por que não,
tão bem ouvidas pelas palavras de Clarice (que Deus e todas as frases de efeito
das redes sociais a tenham!).
Porém... Ah, o porém...
A literalidade nem sempre se
apresenta tão devota. Aquele papo "IN-SU-POR-TÁ-VEL" sobre machismo,
por exemplo, levantado por "aquele rebanho de mal-amada", é
verdadeiro até em cidades do “interiorzinho”, quiridis. Muitas vezes, com menos holofotes (apenas menos
holofotes, não menos devastador). Assédio se faz presente até
quando queremos estar bonitas, mas não entendem que não é este o motivo para
merecermos a vaga de emprego. Não pense que é tão bobagem assim, não quando
você nunca perdeu ou ganhou oportunidades pela maneira que se apresenta ao
invés do que pode fazer.
Voltando a nós, as "piegas"
(tanto quanto usar este termo em qualquer expressão), quantos batons vermelhos
já compramos porque lemos na Cosmopolitan (sim, amo e irei
protegê-la) que os lábios rubros estão causando? E o quanto
nós já choramos por ouvir ecoar sentimentos? Privilégio de um gene feminino
dominante que é um pouco avesso à razão? Seria uma delícia
responsabilizá-lo por nos induzir a furar a dieta ou sofrer daquele mal do
"dedo-podre". Porém, terei que ser cruel... Você só é a fresca,
fraca, iludida se aceitar esta sela e as esporas de preconceitos que te limitam a ser o foco
dos pesadíssimos julgamentos alheios (de homi, de muié, de alma penada e do que
mais for...). Cabe mais em você e menos no peso que precisa levar.
Mas, não percamos a
esperança, nunca nos foi muito fácil viver e assumir o artigo feminino. Acabarei
meu desabafo por aqui, cause a polêmica que for, porque só precisava
mesmo escancarar minhas tormentas. Há muito a ser dito e ouvido sobre esses
assuntos, eles não caberiam neste texto tão leve.