terça-feira, 30 de agosto de 2016

Mulher do cowboy se cansa da sela

Devido à empatia que leva alguém a se tornar leitor de algo, antes que comece sua leitura, preciso dar um aviso: este é mais um texto não consensual sobre mulheres. Ah! E também não é sensual. 


Nunca entendi o fascínio que causamos às palavras. Ao mundo, sim. Às palavras, não. Ainda que cantadas, rimadas, pintadas, mulheres acabam sempre como as melhores escolhas para inspirações. Mas por quê? Não, não crie expectativas, nunca me empenhei a decifrar tal drama, modéstia à parte, caímos muito bem a enredos artísticos, soa bem assim. Sou parte dessa classe inesgotável, que não pode deixar de ser ou de fazer. Clichês ou não, já fomos tão bem descritas nas travessuras de Vargas Llosa, tão desnudadas em versos de Vinícius, tão bem cantadas nos olhos de Chico e, por que não, tão bem ouvidas pelas palavras de Clarice (que Deus e todas as frases de efeito das redes sociais a tenham!).

Porém... Ah, o porém...

A literalidade nem sempre se apresenta tão devota. Aquele papo "IN-SU-POR-TÁ-VEL" sobre machismo, por exemplo, levantado por "aquele rebanho de mal-amada", é verdadeiro até em cidades do “interiorzinho”, quiridis. Muitas vezes, com menos holofotes (apenas menos holofotes, não menos devastador). Assédio se faz presente até quando queremos estar bonitas, mas não entendem que não é este o motivo para merecermos a vaga de emprego. Não pense que é tão bobagem assim, não quando você nunca perdeu ou ganhou oportunidades pela maneira que se apresenta ao invés do que pode fazer.

Voltando a nós, as "piegas" (tanto quanto usar este termo em qualquer expressão), quantos batons vermelhos já compramos porque lemos na Cosmopolitan (sim, amo e irei protegê-la) que os lábios rubros estão causando? E o quanto nós já choramos por ouvir ecoar sentimentos? Privilégio de um gene feminino dominante que é um pouco avesso à razão? Seria uma delícia responsabilizá-lo por nos induzir a furar a dieta ou sofrer daquele mal do "dedo-podre". Porém, terei que ser cruel... Você só é a fresca, fraca, iludida se aceitar esta sela e as esporas de preconceitos que te limitam a ser o foco dos pesadíssimos julgamentos alheios (de homi, de muié, de alma penada e do que mais for...). Cabe mais em você e menos no peso que precisa levar.

Mas, não percamos a esperança, nunca nos foi muito fácil viver e assumir o artigo feminino. Acabarei meu desabafo por aqui, cause a polêmica que for, porque só precisava mesmo escancarar minhas tormentas. Há muito a ser dito e ouvido sobre esses assuntos, eles não caberiam neste texto tão leve.