quinta-feira, 16 de abril de 2020

Você sabe o que é precariedade menstrual?

As mulheres, biologicamente, EM REGRA, não possuem autonomia sobre menstruação. Biologicamente, não é questão de escolha sangrar periodicamente pela vagina devido ao processo natural de expelir o óvulo não fecundado. EM REGRA, meninas e mulheres lidam com alterações físicas e hormonais rotineiramente devido ao ciclo menstrual. Algo comum, mas, também, tratado com um sigilo até vergonhoso muitas vezes socialmente - exceto quando evocado por "piadas" machistas que atribuem qualquer comportamento mais assertivo ou emotivo de uma mulher como "TPM".

Bora lá! Na nossa bolha, além das questões fisiológicas e psicológicas, a menstruação acaba se tornando algo trivial. EM REGRA, a gente incorpora à rotina, escolhe uma marca de absorvente de confiança e um remédio para cólica e toca o barco. Entretanto... pouco se discute sobre quem não vive essa realidade. A precariedade menstrual é a realidade de milhões de meninas e mulheres por todo o mundo, ela acontece quando não se há acesso a itens de higiene pessoal durante a menstruação. Isso mesmo, há milhões de fêmeas humanas que não têm condições de usar itens adequados para conter este fluxo sanguíneo.

Podemos pensar, primeiramente, em culturas distantes da nossa, né? Lugares em que o ciclo menstrual é visto com preconceito, cercado por desinformação e negligência, lugares em que a mulher não tem acesso à informação sobre sua própria saúde íntima e não conhece nada (ou muito pouco) sobre sua anatomia e funcionamento orgânico... esses lugares existem sim. Menstruação é vista como sujeira e castigo em diversas sociedades contemporâneas e se torna tabu - silenciado por culturas que tradicionalmente oprimem mulheres. Há meninas impedidas de frequentar aulas, mulheres impedidas de convivência familiar e social, violentadas verbal, moral e psicologicamente por homens devido ao funcionamento natural do corpo feminino. Não preciso destacar o quanto isso afeta e limita a vida de milhões de mulheres, né? Reduzindo e impossibilitando mesmo oportunidades iguais entre sexos.

Mas a estigmatização menstrual ultrapassa culturas e alcança questões socioeconômicas. Dando rostos à questão, brasileiras em situação de rua, brasileiras encarceradas, brasileiras que convivem com pobreza extrema, por exemplo, são situações próximas a nós que muitas vezes precisam se virar como podem durante o período menstrual. Na ausência de absorventes, mulheres recorrem a panos usados, jornais e, por exemplo, até miolo de pães para conter o sangramento - o que pode provocar facilmente infecções urinárias e vaginais. A falta de atenção básica à precariedade menstrual é refletida na falta de políticas públicas que assegurem condições mínimas de higiene a todas as mulheres.

É, especialmente em época de isolamento social e consequente empobrecimento ainda maior das classes sociais mais baixas, indispensável se discutir a universalidade do acesso a absorventes higiênicos - com redução de impostos nos valores finais destes produtos e até mesmo distribuições gratuitas pelo poder público. Não é escolha menstruar, não deveria ser escolha, por exemplo, comer ou usar absorvente limpo.