segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Não é aceitável se é violência

Dia 25 de novembro, instituído pela ONU, é o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher. Não vou falar sobre dados e históricos este ano (tem muito sobre isso nesse texto aqui). 

Bem, infelizmente, você já deve ter visto por aí que o Brasil ocupa o 5° lugar no ranking de feminicídio, que a cada 11 minutos é registrado estupro de uma mulher no país, ou que a cada 2 minutos é registrada uma agressão física à mulher dentro de casa - e o pavor desses números é maior para mulheres negras e com menos escolaridade. Entretanto, neste dia 25, vou destacar as violências mais sutis, aquelas reproduzidas com maior recorrência e aceitação social, contra as mulheres.

Aquela violência "aceitável" quando você define o que é permitido ou não para a construção do que é ser mulher. 

Aquela violência "aceitável" quando você impõe em quais espaços e até que ponto uma mulher deve se manifestar livremente. 

Aquela violência "aceitável" quando você não dá fala às mulheres sobre suas vivências porque você tem empatia demais com mundo para precisar ouvir de mulheres o que é violência de gênero.

Aquela violência "aceitável" quando você força alguma prática ou o sexo sem camisinha, mesmo que com "jeitinho amigável".

Aquela violência "aceitável" quando você não rechaça piadas sexistas sobre qualquer mulher - só não pode falar das "suas", né? Mas, deixa eu contar, eles falam quando você não pode "defender", viu? Afinal, toda mulher é filha/irmã/prima/esposa de alguém. 

Aquela violência "aceitável" quando você questiona a participação da vítima na violência sofrida ou, ao invés de abominar o agressor, quer saber o porquê da insistência dessa mulher na relação. 

Aquela violência "aceitável" quando você rotula mulheres a partir das suas manifestações naturais sobre sexualidade, por exemplo, como dignas de serem merecedoras de um homem ou não (e que grande prêmio, hein?). 

Aquela violência "aceitável" quando você desqualifica ideias de mulheres engajadas no feminismo ou outros movimentos sociais por estar confortável demais ao manter a sua visão de mundo voltada para o seu próprio umbigo.

Aquela violência "aceitável" quando você fortalece a cultura da pedofilia ao aceitar a sexualização de meninas dizendo que elas são responsáveis por "parecerem ser mais velhas" ou suas preferências são sempre "novinhas".

Aquela violência "aceitável" quando você reproduz comportamentos de objetificação da pornografia em suas relações, reduzindo mulheres à servidão sexual irrestrita e reforçando, além do machismo, padrões racistas.

Aquela violência "aceitável" quando você descredita totalmente (ou fica sempre com alguma dúvida sobre) tudo dito por uma mulher e se atenta a qualquer merda desde que seja dita por um cara (ou quando você se comporta como se soubesse mais sobre qualquer assunto que qualquer mulher).

Aquela violência "aceitável" quando você avalia mulheres pela sua percepção de "feminilidade" - mais ou menos inteligente a partir da cor do cabelo, mais ou menos capaz a partir do tom do batom, mais ou menos higiênica a partir da quantidade de pêlos no corpo, mais ou menos respeitável a partir do tamanho da saia.

Aquela violência "aceitável" quando você abraça os infinitos estigmas resultantes da misoginia: "mulher no volante perigo constante", "em briga de marido e mulher, não se mete a colher", "homem trai por instinto", "mulher é falsa", "mulher para casar e mulher para comer", "é a mulher que faz o homem", "mulher é histérica", "mulher nasce com instinto materno", "vai ficar para titia"...

Aquela violência "aceitável" quando você encara o mundo como um lugar em que está bom como está. E sabe o porquê disso não ser verdade? Porque, além de tudo, violência também é aquela humilhação que goteja todos os dias sobre as nossas existências de fêmeas.