quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Não adianta negar, muda

Depois de meses de dedicação e evolução, cerca de 10 dias longe dos pesinhos, do suor (meu e alheio), do despertar com o sol, entregue ao sedentarismo, foram suficientes para eu me destroçar na tentativa de recuperar o ritmo nos exercícios físicos. Não é bem na minha luta diária (e fadada à derrota) contra a balança que pretendo focar, só estou usando o exemplo para chegar ao ponto: não importa o quanto já se tenha sido experiente em qualquer atividade, se não houver prática, o desempenho sempre será comprometido (pela insegurança ou pelo desuso mesmo). E não espere que eu entre no julgamento da situação, me apegarei somente à constatação do fato.

Uma amiga, casada há algum tempo, discorreu a mim sua tese de que ter um relacionamento sério e estável modifica a nossa animação para a vida social (floreei bastante os termos, mas o teor foi mantido). É mais ou menos o que aconteceu na evolução até o Homo sapiens, sabe? Não ter que ir à caça atrofiou várias características encontradas em nossos antepassados. Hoje estamos nós, aqui, reclamando ou decorando a vida em redes sociais, pedindo Temaki por telefone, cochilando durante vídeo-aulas, querendo impor nossos pontos de vista (ou a falta deles) e tendo preguiça para relacionamentos (ah, temos! Mas este assunto merece um texto exclusivo).

Posso ser sincera? Você está certíssima, amiga. Relutei alguns dias em aceitar, mas você foi extremamente sábia na sua constatação. Ter a garantia de uma noite (tarde ou madrugada) em boa companhia (ou apenas em companhia) nos arranca o tesão para enfrentar a selva de azaração que compõe boa parte das baladas e points atuais.

Casais modificam seus hábitos sociais. Mesmo amando da mesma maneira os amigos, as rodas de happy hour, dançar até o chão, fazer parte das viagens de fuga nos finais de semana emendados, a frequência de manutenção da popularidade passa a ser provada em doses menores que as habituais nos períodos de "solteirices". Não consigo formalizar o porquê, minha amiga também não definiu o que precedeu a sua teoria, então, para não perder o hábito, me resta apenas palpite (e este me pareceu bem apropriado!).

Quando se tem parceria, é tão mais confortável ficar em casa, de camiseta e calcinha de algodão, enroscando os pés sob o cobertor durante a seleção de séries e filmes para a tarde de sábado... Lembra que ~sair de casa já é se aventuraaaaar~? A dança da conquista é extremante chata para quem não vai ficar com o par (tá, no máximo,  divertida). Parece que quando você está comprometida e sem seu cônjuge é garantido se tornar o alvo das cantadas do lugar (será que emitimos algum sinal de presa desprotegida? Será que estamos tentando testar nosso poder de sedução, ainda que inconscientemente? :O) e é super chato ter que ficar se esquivando dos inconvenientes.

Claro, não terá jantar romântico que me fará desistir de disputar 30 cm² do bar badalado com as "miga" quando a motivação para sair de casa for sorrir com aquelas pessoas que têm lugar especial no coração. Pelo menos quando tiver motivo e disposição, né? Afinal, temos que atualizar nossas redes sociais também, reclamar do salário e dos quilos recuperados depois das férias da academia e lembrar do quanto é importante ter alguém com quem dividir o comando da Netflix#ficaadica

domingo, 12 de outubro de 2014

O que é irresistível de verdade

Não, não te contei nada ainda. Beijo na boca no meio de uma enxurrada de palavras sempre é mais gostoso. Barba, sobre o pedaço certo da pele, incendeia qualquer corpo. Troca de olhares, risadas, mãos em lugares incertos... tudo isso é bom, gente, e faz bem. Mesmo. Não há problema algum em assumir isso. Sabe o que é problema? É ter que lidar com pessoas babacas o suficiente para não entenderem que mulheres não são “coisas” esperando por um rótulo numa prateleira ou seres que se tornam ainda mais vulneráveis quando assumem o que sentem e gostam.

Já falei que não tenho nada contra a cantada criativa do pedreiro, né? Uma pitada de bom humor não faz mal ao corre-corre das nossas rotinas. O que incomoda é cara sem noção se achando irresistível e com poder para invadir espaços (físico e/ou psicológico), mesmo sem qualquer indício de aceitação. Talvez seja a idade, ou a preparação para o matrimônio, ou a quantidade de histórias que ando ouvindo sobre assédio (sim, assédio não acontece só quando o patrão passa a mão no bumbum de secretária) ou tudo isso, mas ando extremamente intransigente com os desrespeitosos “galanteadores” que andam às soltas pela cidade.


Arquivo Eletrônico
Não é nada bom ter medo de se mostrar. Tem que berrar um palavrão para extravasar? Sinta-se à vontade! Pode ter certeza que ficar entalada será bem mais prejudicial que receber dois ou três olhares reprovadores. Fez calor? Pernocas de fora no comprimento que lhe for confortável! Acredite, não será uma burca que te livrará da “boca do povo”. Tenha mesmo preocupação em se definir, não em se enquadrar no que esperam (e cobram) de você. 

A sensualidade e a vaidade feminina não são recursos potencializadores na busca por alvos, não somos aviões caças, atacando loucamente, ávidas por abater novas vítimas. Surpreenda-se, mas não estamos sempre tentando conquistar alguém a cada mexida no cabelo ou a cada cruzada de pernas. Mais que um fã-clube no quarteirão, temos um ego para alimentar e uma autoestima sedenta por afago.

Então, sobre o que é mesmo irresistível, literalmente, aquilo que mulher alguma resiste de verdade hoje em dia, prepare-se, eis a revelação: NÃO SUPORTAMOS BABACAS! Queremos realmente morrer ou matar quando se aproximam! E não suportamos esse beija-beija, esses apelidos que enchem o saco, esse olhares de meninos encontrando a coleção de Playboy do irmão mais velho (na minha época, era assim que os garotos iniciavam a vida sexual, gente), essa proximidade forjada com nossas madeixas, esse papo chato sobre todas as suas “conquistas” femininas... Inclusive, "charmosão", quanto mais um otário se gaba para uma mulher, mais asco ela desenvolverá pelo ser em questão. Não estamos pedindo muito, não! Apenas reciprocidade no respeito que nos impomos. 

(Detalhe: ainda tenho 20 e poucos anos e sou uma mulher bonita e inteligente. Portanto, diferente do que institui o seu machismo, este não é papo de quem ficou para titia e, por não conseguir elogios, se ira por não ser aclamada. Se ainda não o fez, supere este tipo de conceito urgentemente! Além de sexista, ele é retrógrado e carregado por ignorância. Na boa, já sofremos bastante com TPM, cólicas, balanças, calças jeans, saltos altos... seja um estorvo a menos na correria dos nossos dias. Grata.) #ficaadica

sábado, 13 de setembro de 2014

Já te falei que tropeço não é queda?

Quando a vida te der a chance de levar uma topada, daquelas bem doídas, acredite, vai ser um dos melhores presentes que receberá. Você vai aprender que, apesar de terrível na hora, com o tempo, toda a dor passará e ficará só a lembrança para boas risadas. Você QUASE caiu, mas, com certeza, conseguiu se equilibrar de novo antes de chegar ao chão.

É para se sentir mais segura ao retomar o ritmo quando um pedaço mal colocado se deparar com sua displicência e te fizer titubear, mesmo tendo que levantar os olhos e encarar sem graça os que estão por perto. Perder o controle nunca é muito fácil para quem planejou um trajeto e resolveu desbravar a estrada.

Claro, essa agilidade, que te fez evitar desabar, não vai te imunizar contra futuras (e passadas) dores, muito menos contra a raiva de perder o passo, mas garanto que te fará mais firme até para o próximo tropeção. Sim, sim... Eles nunca deixarão de te perturbar, as ruas não foram ladrilhadas só para você, só para você poder passar.

Como qualquer outra coisa na vida, você tentará consertar antes de assumir que vacilou, apenas saiba que nenhum Gelol fará passar tão rápido, e a mancha roxa, aquela que dói quando você toca, levará um bom tempo para se desfazer. 

Você não caiu por um grande esforço seu, aproveite, carregue a delícia dessa conquista também. #ficaadica

Arquivo Eletrônico

domingo, 3 de agosto de 2014

O que você não sabe (mas deveria!) sobre o "te amo"

Você não precisa ter se debruçado sobre versos de Vinícius, nem ter assistido a Antes que termine o dia ou a Doce Novembro, nem ter tido o Roberto Carlos na trilha sonora de algum dos seus casos. Você não precisa entender o amor, você sequer precisa conhecê-lo ou buscá-lo. Você precisa é de coragem. Coragem para entrar (e, principalmente, sair) nas armadilhas propostas por este sentimento.

Quando perceber, num momento muito quente, que o pronome "te" na frase "te amo" dito por alguém se refere a você, se atente. Quando ouvir num momento inesperado, se atente também. Quando ler numa mensagem com o mesmo teor no What's ou num torpedo antes ou depois das 18h, mantenha a atenção. O importante é não se afobar, independendo de quanto tempo você tenha esperado para ouvir ou fugido dessa consideração, não será isso que mudará a sua vida, acredite.

Dificilmente a dosagem do "te amo" será a mesma entre quem fala e quem ouve. Quantas vezes você já quis evaporar ao ouvir alguém conjugando o verbo amar para você? E o quanto já se decepcionou por ter esperado demais para ouvir algo que só chegou depois de ter perdido o sentido?  Por outro lado, para quantas estrelas cadentes você já implorou por um momentinho clichê? E em quantos momentos você se agarrou a falsas verdades só para ter com o que sonhar na noite seguinte?

O "te amo" é assim, gente, nunca será como você espera nem poderá ser pautado em experiências acumuladas. Há mesmo quem diz o que sente e sente o que diz, como também, quem fala o que fala da boca para fora. Não espere que todos enxerguem responsabilidades nessa afirmativa. Mas não se assuste, um dia você ainda encontra a fórmula do amor e, mesmo as coisas sendo mais fáceis na televisão, vai conseguir apontar a resposta para a canção do Leoni. #ficaadica

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Você vai precisar saber disso

Não que eu queira te abalar, só que me encontrei com ela noite passada. Ela está bem, os lábios ainda delineados por batom vermelho e os olhos, grandes, confiantes, ávidos por continuar. Desculpe a franqueza, mas, em nada mais você parece participar dessa busca, ela quer algo que não conseguiu conhecer ainda.

Quando se levantou, para conferir a maquiagem ou cumprimentar alguém no espaço ao lado, não me lembro ao certo, não pude deixar de passar os olhos pelos rabiscos que ela trazia na bolsa aberta sobre a cadeira. Até pensei em não comentar nada contigo, cara, mas, você vai topar com isso a qualquer momento. Ela não vai te impedir, nem tentar te convencer de que foram mesmo o melhor para outro. Não tem certeza sequer se foram algum dia, não depois que a paixão acabou e que, como ela buscou definir etalvez tentando apagar qualquer vestígio de crueldade, cortou num traço firme da caneta, "só restou isso, com gosto de bebida quente esquecida num copo em cima da pia"

Enquanto observava os drinks descansando sobre a mesa, notei que você não terá mais que se preocupar com as marcas do batom escuro em suas taças. Precisará é se reabituar a escolher sozinho o restaurante e a pedir porções menores. Não poderá culpá-la mais pelos pratos em tamanho família. "Demorei?", assim interrompeu meus pensamentos. Acho que sorri. "E quanto às fotos?", suspirou, girando o que não havia se derretido das pedras de gelo. Por fim, decidiu que manterá vivos os sorrisos de vocês num canto, sob outras imagens no mural, enquanto houver espaços para eles. Não será para se debulhar em lágrimas, já que aprendeu que todo fim deveria ser doído, apenas para não ter que se confrontar com a situação de te esquecer.

A verdade é que ela tá evitando se debruçar sobre o que não é mais, nem ousou espiar o que ficará da ausência. Tá tentando não bater de frente, não gritar ao mundo e receber em eco que não haverá mais nada para vocês.

Sei que depois que se olharem nos olhos e dizerem adeus, ela vai procurar alguém para desabafar. Não o travesseiro, como deve ter feito, ensaiando essa força forjada para te arrancar da rotina. Ela acredita haver palavras para se dizer e ouvir quando muda a direção. Precisará confessar a alguém a sua culpa, por não tê-la atendido enquanto ainda acreditava que vírgulas eram melhores que pontos finais, e a dela, por ainda levar um pouco do que poderia ter te mantido em mais alguns passos da estrada. 

O engraçado é que parece que ela não vai mudar em quase nada. Vai continuar gostando de dormir até mais tarde nos sábados, mesmo que não seja entre os seus braços. Não vai perder o gosto por matérias políticas, mesmo que não tenha com quem retrucar por pensar diferente. Suas coisas continuarão sendo suas, suas palavras continuarão sendo suas, seus dias continuarão sendo seus e, bem, quanto aos seus, de quem você escolher dá-los. Isso não a incomoda mais. Ou, talvez, ainda. 

Não se assuste, mas, desta vez, acho que ela não vai enlouquecer.

domingo, 15 de junho de 2014

Só para fugir da azia

O problema do amor é que ele também corre riscos (diferente do que dizem os 50 tons de histórias que você imagina viver um dia) e a descoberta sobre a não existência de príncipes encantados não é tão benéfica e libertadora quanto se prega por aí. 

Saber que a paz do "felizes para sempre" é mera construção poética pode nos induzir ao erro de aceitar qualquer coisa que estiver por perto (só por estar a nosso alcance) e nos levar à culpa por querer mais (mais atenção, mais compreensão, mais noites românticas). 

Pensa aqui comigo, se ele te ofereceu tanto no início (e, pode apostar, se esforçará ainda mais quando notar que te perdeu ou para conquistar o próximo alvo), por que aceitar toda a responsabilidade de manter a harmonia abafando o que te incomoda? Só porque tem menos homens no mercado e você não quer ficar na prateleira? Só porque você encontrou o "homem da sua vida"

Deixa eu te contar dois segredos, miga? Primeiro: surpresa! Você não é produto, não! Logo, não deve se notar como parte de transações comerciais. E, segundo, você pode até querer muito dividir o armário e as conversas sobre as notícias do dia com ele, mas... talvez, ele não ache isso tão importante quanto você supõe. Acredite, só existirá o tal "homem da vida" enquanto você for a mulher da vez. 

Esteja atenta! A carência e a "certeza" do sempre nos tornam mais vulneráveis a cair em armadilhas. Quem tem muita fome, toma até sopa de pedra. Já quem está satisfeita, não se rende a qualquer petisco. Comer por gula nunca fez muito bem a ninguém. #ficaadica

sexta-feira, 30 de maio de 2014

O que era bom do tempo, passa

Conte mesmo mais uma mentira, aposto que ainda me fará bem. Minha vaidade vai adorar te ouvir inventando sobre o quanto sentiu a minha falta ou me procurou sem entender o porquê de eu ter sumido. Ainda assim, mesmo com um nó na garganta, continuarei a me reconhecer. Mesmo não estando no lugar certo, me manterei no meu jeito certo. 

Tente me beijar enquanto te explico a quantas anda meu novo projeto. Mas, já saiba de antemão, vou ter que te impedir e, depois, sorrir. Sei que irá se levantar, procurando um cigarro pela mesa, junto a suas chaves, e dizer qualquer besteira sobre o que viria a ser a melhor decisão para mim, só para mostrar que esteve atento às palavras enquanto encarava meus lábios.

Não vou esperar que recorde dos velhos tempos, mas vou torcer para que traga alguma coisa gasta entre nós. Pode até ser sobre a banda que tocava na festa daquela noite. Só não deixe de soltar, assim, como quem nunca perdeu a proximidade, que foi a noite em que nos reencontramos pela terceira ou quarta vez.

Quanto às promessas, todas ficaram guardadas em alguma caixa daquelas que não mexemos por muito tempo. "Amor"... "Sempre"... Não, não vou te contar que consegui apagá-las, até por que, prefiro seus olhos mais leves e mudarei de assunto antes que possa sentir. Notei que mudou o corte de cabelo. Talvez, não dê mais enrolá-los com os dedos quando tudo acabar. Sei que entenderá. Mas, me manterei calada. E não procure os meus olhos para confirmar, fique perdido com seus pensamentos daí, resgatarei alguns por aqui.

Achei outros lugares para guardar aqueles planos que confidenciava a você, e vou soltar assim, sem qualquer cerimônia. Aí, nesse instante, terei que confessar: não morri de saudades. Em nenhum momento sequer.

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segunda-feira, 12 de maio de 2014

A minha roupa quem escolhe sou eu

"Bandeirinha bonita" é mais uma vítima de cometário infeliz Arquivo eletrònico

Felizmente, a autoestima existe (não, não me refiro à megalomania nem à arrogância, o prazer de estar satisfeita consigo mesma vai além da pequenez de se sentir maior que os outros), o problema é que pouca gente parece ter descoberto que não é preciso sair por aí desfilando de Camaro amarelo ou com garrafas de Chandon para encontrá-la.

Não é por polêmica que estou aqui, me agarrando a um tema exaustivamente debatido, é por um puro desabafo. Nada contra desejar “a todas inimigas vida longa, para que elas vejam a cada dia mais nossa vitória”, só acho que o caminho está mais constrangedor a cada dia. E enquanto as nights e baladas gritam por “luxúria”, “ostentação” e mais um punhado de palavras que foram incluídas recentemente em alguns vocabulários, nós, nem todas as mulheres, mas muitas, ainda somos acometidas pelos reflexos de alguns desvios.

A cantada engraçada do pedreiro se torna ofensa quando vem carregada de vulgaridade, a noitada com amigas se torna um estresse devido ao assédio de alguns babacas, a ida de ônibus ao trabalho é muito mais cansativa que o desempenho das próprias atividades, o erro da arbitragem é atribuída a causas sexistas quando cometida por uma mulher (veja aqui)... Enfim, lembra da autoestima? Então, vem sido difícil mantê-la vívida. Não existe segurança que não se abale diante de tantas avaliações vindo por baixo.

Aproveito a deixa para esclarecer: não é o tamanho de uma saia que definirá o quanto alguém poderá invadir o espaço de outra pessoa. Fala sério, muito já foi abolido e conquistado até aqui, podemos, sim, vestir shorts curtos, arrasar na make, ser lindas e sair para beber com as amigas sem precisar da “atenção” da mesa ao lado. Não é porque vulgaridade funciona com algumas pessoas que servirá perfeitamente para todo mundo. #ficaadica

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O que ele acha de tudo isso

Ei, menina, isso que você vem chamando de “maturidade”, antes mesmo que notasse, o seu coração já havia definido como cansaço. E vem mesmo com o tempo. Quando ele, implacável na busca por aventuras que desembocassem em calmarias, começa a se desvencilhar das adversidades, é sinal de que entrou no tal processo de maturação.

Ele aprendeu a se calar para evitar desgastes, o que nunca caberia nos planos passados. Sempre buscava ser ouvido, e até gritava se fosse preciso. Agora, prefere se sentir confortável a buscar novas emoções e vivê-las. Já foi tão marcado por seus atos inconsequentes que agora se satisfaz com qualquer lugar onde possa se esconder.

Arquivo Eletrônico
Se isso é bom? Sorte a sua se seu cansaço encontrar um lugar mais calmo para se instalar. Se não, triste sina essa de viver em guerra com a paz que busca cercar os seus dias. O problema talvez seja essa busca por alguém que te entenda. Pura tolice. Às vezes, há a sorte de se encontrar quem tenha a pegada que valha a pena qualquer risco, ou o abraço mais terno em meio ao cansaço, ou uma palavra forte para aquelas manhãs sem sol, mas, ainda não será o que há tanto se espera.

Não precisa baixar o olhar. Ninguém vive muito tempo em consonância com o coração, logo saem do ritmo, mudam a batida e firmam um acordo em que o silêncio de um não tocará no barulho do outro. Sei que ainda consegue se lembrar o quanto já chorou por isso, mas solidão é espaço vazio demais, o que poucas vezes completa alguém.

Agora, que você nem sabe mais como escutá-lo, o barulho é seu e o silêncio, dele. Paciência, menina, paciência. Não é por mal, coração age assim mesmo.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Não veja tudo como perda

Com o tempo, você não vai sentir mais falta das birras ou da maneira como ela fazia tudo acabar em risadas. Mas, não se verá totalmente livre do incômodo por tê-la perdido. Assim como todos os outros que já foram alvos do seus planos, você vai se angustiar ao vê-la de longe, apenas como um mero espectador, mesmo que já tenha se passado dois, quatro ou sete anos, ela é do tipo que irradia expectativas e convida a novidades. Você terá que esconder toda essa gastura que dá em ficar sem falar sobre qualquer outra coisa que não esteja ligada a ela. Mas, vai passar. Você já viveu coisas bem piores e, mesmo assim, olha aí onde chegou.

Talvez você nem saiba, e jamais desconfiaria se não te contasse, mas, em todas as vezes que ouvia o barulho do seu carro, ela sorria, e sorria num riso secreto até escutar a chave na porta. Parava sempre antes da sua entrada e se fingia surpresa, ou surpreendia, pela intromissão da chegada. Por dentro, continuava a sorrir enquanto se derretia num toque de lábios. Se você visse aquele sorriso, garanto, não seria tão rápido nos beijos de reencontros. De qualquer forma, não se sinta mal por isso. Aposto que os dias vinham sendo bastante corridos e tudo o que você mais precisava era de banho quente para relaxar. 

Ela queria segurar sua mão quando sentia medo, ela quase sempre sentia isso, mas, poucas vezes deixava que a descobrisse de tal forma. Espero que você tenha ao menos notado quando o medo gritava de seu coração, ainda que ela fizesse charminho por baratas, escuro, trovões ou celulites, sempre levou uns dois ou três pavores que lhes eram intimamente doídos. Bem, se não os notou, também não se culpe. Não seria mesmo o seu papel e ela, menina que às vezes se pintava, já sabia muito bem disso.

Ah! Quase me esqueci! Sobre aquelas dezenas de potes de óleos e cremes, dos quais você nunca entendeu e tanto reclamava por ocupar o seu armário, eram para você, para que, a qualquer toque, cada pedaço de pele se fizesse ainda mais macio ao seu encontro. As discussões e apaziguamentos cabiam, além de no mesmo minuto, no mesmo colchão, e ela nunca gostou de ser pega desprevenida. Agora, pode aproveitar tudo, o espaço voltou a ser todo seu.

Pois bem, vou revelar um último segredo: ninguém consegue dominar todas as regras. Os homens que ela já jurou ser o cara de sua vida se tornaram mesmo, de algum modo. Apesar de qualquer coisa, ela continua romântica demais para poupar todos os seus casos do amor. E, quanto a isso, nada de preocupações, não será muito diferente com você. Vez ou outra, lembrará de um céu que dividiram e se inspirará para levar alguns versos ao papel. Sortudo. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

Mais do que foi visto (ou Novidade para o Dia da Mulher)

Arquivo Pessoal
"Afinal, o que as mulheres querem?", quem nunca ouviu, em tom queixoso, uma pergunta desse gênero? Sejam os apaixonados, se empenhando para agradar, os curiosos, em tentativas, fatalmente fracassadas, de entender o universo feminino, ou os raivosos, de saco cheio por nunca acertar. Bem, fiquem felizes, em síntese, somos bastante simples. Na maior parte das vezes, queremos nos resolver com a balança, nos firmar na carreira, mudar alguma coisa no mundo e encontrar amor. Na mesma medida, somos individualmente particulares (e essa redundância é mesmo indispensável), cada uma de nós busca coisas próprias, algumas, comuns, outras, nem tanto. Tá, é quase unânime, nem sempre recorremos às melhores (ou mais objetivas) formas para alcançá-las, complicações têm um cheiro mais excitante, entende?

Em linhas gerais: Nunca nos satisfazemos com o peso e, na mesma medida, não queremos abrir mão do chocolate. Até aí, tudo bem. O problema é que, além das gordurinhas, a autopercepção também é ampliada. Toda mulher em luta contra a balança deve sofrer do transtorno dismórfico (sim, namorado, até eu), caso contrário, não haveria tantas clínicas estéticas bem sucedidas. Parece exagero, tentamos nos convencer que é exagero (inclusive, nos chocamos com a paranoia de amigas próximas), só que esse discurso não funciona muito bem na frente do nosso próprio espelho, ou quando abandonamos a calça 38 e elevamos este número.

Adoramos falar, adoramos sensações, adoramos contato, adoramos detalhes... Certo, em geral, falamos muito mais que os homens, mas, nem sempre dizemos tudo o que queremos (juro que não faz mal perguntar ou tentar entender às vezes). E o mais importante, talvez nem as mulheres saibam disso, o fato de você sonhar em se casar e ter quatro filhos não te rebaixa à traidora do gênero, você pode ser até mais engajada às causas femininas (não adjetivei como "feministas" propositadamente) que aquela amiga que faz parte de algum grupo universal de mulheres e defende, sem polêmicas, cegamente a legalização irrestrita do aborto.

Sobre o amor, não haveria mesmo o que comentar, somos caçadoras de aventuras. Há alguns anos (hoje posso falar sobre isso porque não causa mais constrangimento a ninguém), comprovei o quanto somos indescritíveis. Mulher sonha com romance, com príncipe, com uma serenata e reclama pela falta desses componentes dando luz à vida, mas, de verdade, falta traquejo para lidar com isso na realidade (especialmente se o galã aparece na casa dos seus pais com um vinho para um lual). Aí, o tempo passa, as coisas mudam, mas o desejo por "contos de fadas" permanece, latente em alguma parte da sua consciência, com medo de ser acatado por algum acaso do destino. Parece que o problema é que, mesmo com um valente príncipe ao lado, as garrafas e o violão sempre continuarão assustando.

Só que, porque eu e a maior parte das minhas conhecidas tendemos aos mesmos erros, não significa que TODAS as mulheres reagem da mesma maneira quando expostas aos mesmos estímulos (e não, não somos ratinhas de laboratórios). O que eu quero dizer é que, amanhã é o Dia Internacional da Mulher, experimentem, por mais difícil que pareça, não nos olhar como uma espécie carente, complicada, em plena ascensão ou com qualquer outro conceito pré-fabricado pelo tempo, nos olhem como novidades, cheias de defeitos e gostosuras. Afinal, somos isso mesmo. Ah! E somos únicas. Todas mulheres, mas, únicas. #ficaadica

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ido

Pobre mulher... Nas suas “muito bem aproveitadas”, como não se cansava de gabar a quem perguntasse, mais de cinco décadas de vida, acordou livre. “Que coisa mais estranha!”, pensou. Na noite passada, havia feito tudo exatamente igual, como nos últimos 28 anos, um beijo sem nada muito forte, exceto o sabor do creme dental que se comprometia com um mágico clareamento inalcançavelmente notado, algumas observações sobre o que faltava na dispensa (ou talvez sobre a conta de energia), um silêncio confortante e, logo em seguida, um ronco conhecido. Tu-do e-xa-ta-men-te i-gual!

Fechou os olhos, tola que tentava ser, dormiria mais um pouco e acordaria como sempre. Já comentei sobre sua ingenuidade forçada, não foi? Não conseguiu dormir, muito menos mudar aquilo. “Como poderia ser tão fria assim?”, culpou-se. Arrepiou-se só em pensar em tamanha ingratidão. Quanto egoísmo! Desistir de algo que não era só seu... que, na verdade, nem era mais seu. 

Naquele momento, sentiu o farfalhar do colchão, uma alteração de respiração e de posição e uma nova entonação de ronco. Aquele barulho, já tão gasto e familiar, nem sempre foi tão aceitável, quantas noites de fugas para o sofá ou cotoveladas nas costelas. Perdeu-se em algumas dessas madrugadas, seguidas por dias de amor no banho e atraso para o trabalho. Com certo rubor, pensou em como as coisas já tinham sido bem quentes. Ainda assim, não conseguiu mudar nada.

Sentia um fim indescritível, irreparável, inadiável. Aspirou toda a coragem que coube em seus pulmões, ficando até um pouco tonta, e o olhou mais uma vez, aquela seria a última vez que dividiriam aquela cama, aquele quarto, aquela vida. Mais uma remexida, dessa vez apenas as pernas, será que ele já previa? O que aconteceria? Seria ele quem abandonaria as paredes da casa comprada há quase três décadas? E o jogo de porcelana, presente de sua avó, ele o reclamaria?

Outra virada sobre o colchão, agora ele acordaria. E assim foi. Olhou-a com olhos fechados, ela sempre acreditou que esse fosse algum poder mágico e peculiar seu, laçou-a pela cintura com braços frouxos, aquela era uma forma particular de desejar um bom dia, e saiu em direção ao banheiro. Como ela tinha se retorcido por mais naquela manhã. Um beijo, sem gosto de hortelã, um sonho bobo dividido, um “bom dia” de verdade. Não houve nenhum barulho, nenhum pedido, nenhuma declaração e não haveria nada se não fosse pela descarga do vaso. “Tá vazando de novo!”, foram as primeiras palavras do dia. “Vazando?”, repetiu sem dizer nada de fato. “E quanto a mim?”, pensando alto dessa vez. Calou-se. O chuveiro já havia sido ligado e mais do que apenas a água ia pelo ralo naquele instante. Tinha sido assim também ontem. E anteontem. E antes disso. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Do que tem sido

Poderia pedir mais frases em pedaços completos. Poderia não, deveria. Onde já se viu? Entregar-me tanto assim? Logo eu, sempre transbordando efemeridade, rendida a mais improvável calmaria... À mansidão de caber no abraço certo, no sorriso terno e, até, no olhar incerto. 

O que hoje palpita, me laçou. São arrepios que existem para o correr dos dedos num pedaço da pele, são beijos na nuca e uma barba por fazer. E, já que o silêncio nos trouxe até aqui, melhor o deixarmos falar. Aproveita, vou te mostrar como o sol entra pela janela e brinca sorrindo antes de nos acordar. Aproveita um pouco mais, vou te embalar no que couber dentro de mim e te mimar quando estivermos sós. Sem pressa. Sem medo.

E o que estiver lá fora? Deixa para lá... Uma hora se esvai... e vai. Não tem sido sempre assim nestes últimos 15 ou 19 meses? Faz barulho demais, incomoda demais... Não, não caberia entre nós. O que nos pedimos já é grande o bastante: mais de mim em você e de você em mim.