segunda-feira, 9 de março de 2015

Eu sou violentada

Antes de pensar em qualquer conceito de violência, para dar continuidade à leitura, pare. Não se trata de soco, beliscão, estupro, não é nada tão físico (porém não deixa de ser violento). Agora, que você é uma pessoa um pouco mais sábia, porque conseguiu organizar suas ideias quanto à violência, podemos prosseguir.

Com a proximidade do internacional Dia da Mulher, a mídia pautou, a lei aprovada pelo Senado pautou, o trabalho pautou, as rodas entre amigas pautaram, os comerciais de perfumarias e lojas de departamento pautaram e o café da manhã com o maridão pautou também sobre o que vem do feminino. É! Não tem jeito, tudo foi envolta do mundo não tão cor-de-rosa que nos oferecem por aí. 

Mas, o sorriso do comercial ou o bombom da loja parceira funcionarão para me consolar depois de mais uma agressão? Quando meu corpo for alcançado por toques invasivos, quando eu for ridicularizada por buscar igualdade de tratamento, quando o tamanho da minha saia for alvo de ataques, quando eu tiver que engolir porque foi "só uma piada", quando a travessia na faixa de pedestre respaldar a virada de pescoço, conseguirei me agarrar à "doçura" do seu 08 de março?

Não dá para fugir, estamos mudando nossos olhares e incomodadas com os tons pintados em nossos dias. Sabe porquê? Descobrimos que podemos gostar do Grey, do marquês de Sade, do chicote do alazão, do que for, mas, em momento algum, isso jamais te dará o direito de dizer que "mulher gosta de apanhar". Ou que podemos gostar de carinho e de valorizar o nosso corpo, mas, em nenhuma hipótese, nos tornaremos "lâmpada do Aladdin" ou estaremos, com isso, te dando espaço para se apossar de um fio de cabelo, de um milimetro de pele que seja. 

Sabe o que mais descobri no meio do constrangimento diário por carregar os cromossomos XX? Que a TPM não é o motivo por não achar graça de comentários sobre bundas e cérebros, que tomar conta do fogão e do tanque não me inferioriza diante de ninguém, que vestir a roupa no tamanho que eu quiser não me torna puta, que sair para beber não abala meu profissionalismo, que me impor diante de agressões não me torna uma chata, tampouco uma coitada. 

Se Deus quiser, o mês continuará com seus outros 21 dias restantes, depois virá abril, maio, junho... E eu continuarei sendo mulher, a mesma que é importante para todos os 08 de março e tão agredida no restante do ano.