terça-feira, 21 de novembro de 2017

Feito elas

Somos esse conjunto de dores e sabores que nos moldam dia após dia, em meio a escolhas e arrependimentos, a acertos e indecisões. Num caber maior que o imaginar, somos forjadas em prantos quentes e prazeres sóbrios. Nós somos constelações grandes demais, particulares demais.

Costuramos uma porção de marcas. Marcas do tempo, daquela ausência constante. Marcas de sol, daquela caminhada num dia mais quente. Marcas de estrias, de um corpo que se abriu ao que precisava. Marcas de rugas, de choros silenciosos no chuveiro e gargalhadas estrondosas entre nós. Marcas de desencanto, por tantos começos com finais exatamente iguais.

Há colo em meio a nossas dores, por sorte, mesmo contradizendo a tantos rumores, não ficamos menos fortes quando nos mostramos doces. Às vezes, sem escolhas, somos escombros pintados em arte, noutras, a arte de se desmanchar em cacos. Mesmo disfarçadas ou entregues, acredite, não somos apenas o que se pode ver. Se não nos tocar, não seremos nem o que se pode supor sentir.

Não ouse nos limitar. Não há definições em nossos vestidos, nem em nossos cabelos, nem nas cores dos nossos batons (ou na ausência deles), nem nos livros em nossas prateleiras, nem nos pesos em nossas balanças, nem nos amores que buscamos viver (em um dia ou numa vida), nem nas vezes que desistimos, nem nas vezes que desafiamos. 

Trouxemos sempre mais que pedaços de projeções, de conteúdos inferiores, de dores e passados. Há porções frescas do que somos sendo descobertas por nós mesmas a todo instante. Contentem-se com o vislumbrar de toda essa grandeza de mulheres comuns que inspiram até mesmo o mundo a parar de girar.