sexta-feira, 11 de maio de 2018

Suporte

Você suporta um pouco mais, menina. Seu cansaço vai tentar te convencer que é arriscado levar, a lugares que insistem em abraçar a ignorância, um pedaço de luz que seja. Você pode, de repente, revelar o que se busca esconder com toda a mesquinharia de padrões confortáveis para quem se enxerga maior do que realmente é. Padrões, inclusive, que precisam esfregar em seu rosto o tempo todo o quanto será difícil não ser conformada com o que eles trazem. Mas, em meio a tantas negativas, forjaram também sua resistência.

Seja suporte, menina. Há tantas como você, inseguras sobre até que ponto podem escolher, marcadas por cortes profundos em suas intimidades, minadas ao se olharem, ainda que sozinhas, em seus próprios espelhos, incomodadas por não conseguirem se acomodar. Há tantas como você, buscando coragem também nos olhos chorosos daquelas que não conseguem se desprender do que tanto causa dor, gritando em silêncio que não cabem mais onde foram lançadas, não aceitando que o aceitável é se calar, é parar, é aceitar. Torne-se mão que seca lágrimas, que freia amarras, que acena por socorro, que segura a barra. Afinal, suas lágrimas também rolam, suas amarras também incomodam, suas fraquezas também precisam de ajuda franca. 

O mundo não precisa te suportar, menina. Seja agradável ao que te enxerga com as possibilidades da sua existência e não escute o que te emudece. Cuidar de si mesma é também se reconhecer da maneira que mais te deixar confortável. Se for preciso, confesse, àquelas que recebem do mundo o mesmo que você, todos os seus medos quando precisa se confrontar - até o de não conseguir mais ficar de pé na luta. Elas enfrentam as mesmas incertezas, ainda que tecidas em outros cenários.

O que te sustenta hoje, menina, é aquilo que suportou em si também o peso de precisar ser mais: outras meninas. Outras meninas que foram desenhando o poder que se pode alcançar sendo mulher. Outras meninas que, exaltadas entre si, são vistas bem pequenas mesmo em suas grandezas. Outras meninas que dizem o que sentem ou ainda não se sentem à vontade para isso. Outras meninas que não conseguem entender o porquê só porque não puderam fazer questionamentos. Outras meninas que, com olhos enganados, enxergam mais nas outras que em si próprias. Outras meninas que são entregues, são trocas, que são loucas, são fodas.