segunda-feira, 12 de março de 2012

A tendência é essa

Pessoas acabam desistindo das outras. Soa pesado? Nem tanto. É cíclico e não acontece por mal, nem por extinto de usurpação, nem por frivolidade, nem desapego... Sua causa é muito mais implacável: distância.

A amiga que vivenciava cada capítulo daquela sua estória mal entendida, por meio de horas de desabafos ricamente detalhados, e recriminava seu descontrole, sem medo de se tornar incompreensível, se casou, foi morar fora... A amizade prevalece, uma continua podendo contar com a outra, só que agora, quem antes dividia com você o mesmo período de TPM, além de saias altas, secador, esmaltes, pães com presunto, compartilha apenas alguns minutos de ligações mensais numa consistência quase tão rala quanto sopa instantânea. Essa é a distância física.

O antigo namorado, que conhecia o jeito certo de pedir seu suco (de acerola bem gelado e com açúcar), dominava a arte de te abraçar pra dormir, sabia qual era a marca do seu shampoo, depois de alguns meses do término, se passa facilmente por um estranho dispensável. Loucura? Bem, depende do seu posicionamento. Essa é a distância sentimental.

E não é de propósito. A vida cria esses percursos, traz novas ocupações às pessoas, novas preocupações, novos papéis e transforma as tardes divididas, de filme e pipoca, em horas de trabalho, seja lá qual for sua espécie. A distância, quando se impõe, é o desgaste natural de relacionamentos, seja construída por quilômetros, seja estabelecida em palavras, ela acaba sempre afrouxando o interesse.

Me desculpe os que pensam (e vivem) o contrário, mas distâncias, espaciais ou emocionais, não fazem bem à manutenção de laços. Os céus compartilhados, as caminhadas ao mesmo destino, os comentários sobre os sonhos da noite passada, as discussões sobre o final de um filme, ou o meio de um livro, os esbarrões na cozinha apertada, as horas escolhendo um look para a festa, a convivência com frustrações, o ombro para poder desmoronar, precisam acontecer. Ah! E tem o cheiro, que se torna identidade, e as brigas (nas versões saudáveis e esporádicas) também. São essas coisas que geram a tal necessidade e alimentam a cumplicidade. #ficaadica

2 comentários:

  1. E o mesmo vale para aqueles que estão pertinho, ao nosso lado, mas por algum motivo passam a se fazer ausentes.

    Muita verdade escrita aí! E às vezes dói ao admitir isso (e lembrar daqueles que ficaram do outro lado da distância...)

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  2. E essa dor se chama saudade, Sâmia.
    Mas, um dia, diminui sua intensidade e sua constância.

    Um beijo (:

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