segunda-feira, 17 de setembro de 2018

É treino

Admiro o cara que gasta gel ornando os fios num penteado tanto quanto a mina que usa seu delineador numa make marota para levantar seus pesos e afins. Eu, na minha realidade - suando feito uma pamonha requentada, descabelada como o próprio sabugo do milho e querendo fugir daquele ambiente como uma pipoca na panela -, não sei ser agradável nem aos olhares alheios. Perdão, pessoas que treinam nas mesmas academias que eu, vocês podem fechar os olhos ao me ver e disfarçar o susto com aquelas caretas de quem tem muitas anilhas para sustentar. Eu tenho me esforçado, ido aos treinos com maior frequência (já sou reconhecida pelos funcionários do espaço), comido menos farofa e mais ovos cozidos, mas, realmente, sinto como se não pertencesse ao ambiente mesmo me empenhando. Tem gente que ama e sente prazer em estar lá, eu, a cada série de agachamento, só sinto vontade de reproduzir aquela cena marcante de GoT:




Agora me explica qual o motivo de eu continuar frequentando um lugar que me causa pesar? Eu tenho uma séria suspeita de que a culpa foi de quando, em algum momento passado da minha vida, eu parei de aceitar o corpo que guardo minha existência devido a expectativas externas. E isso aconteceu cedo demais, eu não tinha nada de maturidade para lidar com isso de outra forma além de aceitar conviver com a frustração eterna de não gostar do que o espelho me mostra. Isso é triste porque faz mal, no mínimo, à minha saúde mental. Isso é sério porque faz mal, no mínimo, à minha saúde mental.

O problema aqui não é a academia ou a cadeira extensora - não tô tentando largar meu projeto. A questão é como tenho me posicionado diante da busca por "padrões" que podem nem ser reais ao estilo de vida ou biotipo que tenho. Tenho sido cruel com meu reflexo no espelho, tenho sido cruel na forma de absorver os comentários alheios sobre o MEU corpo, tenho sido cruel ao ignorar que cada organismo reage de uma forma, ainda que recebendo os mesmo estímulos... E sabe o pior disso tudo? Tem uma porção de mulheres ao meu lado reproduzindo a mesma crueldade com seus corpos e mentes o tempo todo. 

Existe algo muito perverso por trás desses comportamentos de cobranças insanas e que, apesar de toda nossa intelectualidade e protagonismo na busca por mais aceitação e valorização de todas as formas de beleza, nos acerta em cheio - bem no meio do estômago. Já aceitei que isso é real, o
 que eu não vou aceitar nunca é que qualquer ser vivo (ou parasitário) ache que tem o dever de manifestar sua "desaprovação" sobre minha aparência. Estorvo, NÃO FAÇA NINGUÉM SE SENTIR DESCONFORTÁVEL COM O SEU PRÓPRIO CORPO. Pronto. Gritei. 

Você que se acha juiz de físicos, tente ser um ser menos mesquinho. O seu conceito de beleza é seu, foi formado por suas percepções, isso não quer dizer que se sobressai ao das outras pessoas. Pode até parecer um comentário inofensivo no seu ponto de vista, mas você não tem como dimensionar a relação de ninguém com o próprio corpo. Achar que sua opinião é importante e deve ser expressada pode fazer muito mal ao processo de autoaceitação de alguém. Não se incomode se a pessoa está "relaxando com o corpo" (que redução intelectual associar aumento de peso a desleixo) - cuide dos seus próprios ponteiros na balança. Não se incomode se a pessoa está "seca demais" (ou outra observação do tipo: "homem gosta de carne, viu?" - infarto) - sua preocupação continua sendo com o que vai no seu próprio prato. Não se incomode se a pessoa está "muito bombada" - compre um Whey Protein para chamar de seu também, meu bem.

Quanto a nós, sujeitas às loucuras e pressões por "padrões de beleza", o exercício diário é tentar ter a mesma condescendência com você que você tem com sua amiga que é maravilhosa e não consegue se enxergar assim. Tentar aplicar a você o mesmo olhar de admiração por tudo que ela é - mesmo quando jura que não encontra uma roupa que lhe caia bem ou que já tenha sido vencida por três pacotes de Doritos. A pera ser bonita não torna outro tipo de fruta feio - seja melancia, banana ou jaca. 

Eu, por ora, vou manter minha rotina e continuar sendo tão sensual na academia quanto um prato de miojo, porque, posso até ter boa vontade, mas, ainda não tenho a menor paciência para me arrumar para ficar exausta e suada. Quer dizer, depende...

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