sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Percebendo

Não conseguiria mais disfarçar. Já não havia outra forma de se enganar. Em silêncio, sentou-se no quarto iluminado pelo que sobrava de luz noturna e contorceu-se em meio aos sonhos, oscilando entre sorrisos e queixas, perdendo-se entre o real e passado.

Cansou-se de tudo isso, de premeditar as mesmas consequências e, principalmente, de errar sem ter a sensação de saciedade. Dessa vez, precisaria e arriscaria se fartar com o que ainda não conhecia. Apenas com uma ressalva: não convidaria qualquer plateia. A lua bastaria, e já se fazia presente por entre as brechas da janela.

Não haveria mesmo espaço para enganos. Talvez, ainda, incertezas. Medo das mãos se afrouxarem e se perderem, ou se cansarem. Mas, olhando tudo que a envolvia (memórias, saudades, tropeços, espera), dava-se conta que o temor era menor que a delícia de se descobrirem, de se desejarem juntos.

Trabalharia para se livrar de promessas e expectativas, por mais que a criatura humana não saiba isentar-se completamente desses defeitos-virtudes. Tentaria. Por ele. Por si mesma. Pelo risco.

E, sozinha no quarto iluminado pelo que sobrava de luz noturna, sentiu-se enlaçada, não ainda a mãos, mas, a dedos que apontavam a algo diferente. Sem pressa, sem antecipações e sem idealizações, apenas a realidade.

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