terça-feira, 28 de maio de 2013

O que não seria

Tinha ouvido em vento o que explodira pouco antes da certeza. Nem sabia ao certo como chegou ali, trôpega em sonhos, embebedada em dúvidas, esgotada de corpo e alma. O sussurro quente demorou a desfazer-se dentro do espaço tão familiar e, por horas, tangeu o pedaço de sol que entrava pela cortina esquecida aberta. Preferiu não mudar nada naquele cenário, a brincadeira entre brisa, tecidos e raio de luz.

Escorregou até o piso frio e sentiu um estranho conforto percorrer-lhe a pele. A claridade, já não tão abundante, soou concordante com a penumbra que a calou. Havia aprendido com crepúsculos e, antes de perdas, proibia-se afastar do brilho em seus olhos. Lágrimas não mais a sufocavam.

Do chão, percebeu o quanto destoou aquele lugar, desencaixou-se sem notar e perdeu-se no roteiro. Não era ela. Não era dela. As paredes, coloridas pelo tempo, enclausuraram-lhe o fôlego e, ofegante, não escutou o que por toda vida disse a si mesmo.

Viu pares de sapatos e roupas usados e esquecidos fora do armário, a porta que deixou entreaberta, a dança do seu coração que pulsava tão fora do ritmo e chegou até a ver os estilhaços do que restou. Nesse momento parou. Ficou com medo, com dúvidas e esqueceu-se de respirar. Não quis mais abrir os olhos e ter que olhar de novo o que sobrou, poderia ter sido pouco demais para sobreviver, poderia ter sido grande demais para morrer.

Só que não resistiu, percorreu com os dedos sobre onde mais doía. Passeou entre lembranças e então percebeu que se enganou quando encontrou os bons momentos. Foram eles que latejaram. Sentiu que as queixas por desafeto fizeram menos barulho que as trocas de olhares e que a ausência de planos nunca lhes afastaram as mãos. Soluçou em seu pranto velado.

Foi quando ela notou que o chão não era o mesmo, que os embalos da cortina abandonaram a graça e que a sombra desbotou a luz. Não relutou. Naquele momento sentiu que não cabia ali e que, talvez, sequer coube por uma só estação.

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