quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Num pedaço do céu

E o céu se tornava cada vez mais raro. Não por inexistência, somente por algo da displicência. Entretanto, chegar a essa constatação, dolorosamente, espremia-lhe à uma nova realidade: não se reconhecia.

Perder a capacidade de sorver um pedaço do céu todos os dias mostrava-lhe o quanto havia perdido dentro de si. Sempre foram visíveis as alterações externas, fossem amigos encontrando novos rumos, fossem roupas que já não se adequavam mais, fossem ambientes deixando de serem frequentados. Porém, tudo o que mudava por dentro, agora, tornava-se mais gritante que qualquer outra mudança já provada.

Não tinha se atentado até então, mas, sentir com tamanha intensidade aquele pedaço do céu, revivia, lentamente, um pouco do antes, de algumas verdades que se omitiam, de alguns conceitos que se refaziam e da liberdade subtraída pelos novos planos.

Pouca coisa é obra do acaso e, erguer a cabeça naquele ponto do trajeto e perceber o quanto as novas construções roubava-lhe a grandeza do céu e dos antigos e pequenos prazeres levou-lhe à outra realidade: mesmo não se reconhecendo num rápido olhar, bastava observar com um pouco mais de atenção para enxergar toda a meninice que, essencialmente, arraigava-se à sua existência.

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