quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Nas horas felizes*

Mulheres também gostam de happy hours. Gostam de mesa de bar com amigas, de jogar conversa fora enquanto bebem, seja um suco de laranja “com gelo e sem açúcar, por favor!”, ou para as mais despreocupadas, uma cervejinha gelada.

Assim, elas combinaram de se ver. Eram amigas, colegas, cúmplices, afinal eram mulheres. E mulher tem dessas coisas de fraternidade quando se gostam. Deixo a ênfase no “quando se gostam”, pois a classe feminina não é tão unida quanto se pinta nos comerciais de iogurte. Sempre cabe muita competição, e não é como as disputas masculinas, contabilizarem resultados, antes fosse só isso. As mulheres tendem a se odiar pelos cabelos, pelas roupas, pelos corpos, pela pele, pelas unhas e, muitas vezes até, por antigos affairs.

Mas, retornemos às amigas. Entre copos, risadas, agendas, conselhos, livros e bolsas, sobre a mesa pairavam também a nostalgia dos tempos da infância, trechos e personagens de filmes, promoções em lojas de roupas e sapatos, novos tratamentos capilares, dietas... Além de suas aventuras, quase sempre, amorosas.

- Eu não volto mais! A menos que ele se rasteje em aos meus pés! – declarou a de cabelos mais curtos e rosto delicadíssimo.

- Essa é a centésima vez que escuto isso... – rebateu de imediato a morena de seios e sorrisos fartos.

- Ela volta. Sempre quando passam as festas, eles voltam. Ano Novo, Carnaval, São João... – desdenhou a de corpo delineado e maior resistência ao álcool.

- Ah! E falando em romance, hoje me aconteceu uma coisa. Encontrei com ele na porta do banco, ao meio-dia. E... A gente acabou ficando! – revelou a morena sorridente.

- No centro da cidade? Ao sol do meio-dia? Que coisa mais adolescentes-colegiais-na-saída-da-escola! – ironizou a mais miúda, mas não menos notada e bonita.

- Se ele não fosse tão “truta”, diria que isso é coisa de “emo”. – acrescentou a amiga das bebidas.

- Pois eu acho lindo! E eu estou apaixonada. – soltou quase sem respirar, a de cabelos mais longos e mais claros.

- E a novidade? – perguntou alguma – Esse é o quinquagésimo do mês?

- Ah... Mas esse é diferente. Ele me ligou no dia seguinte, e no outro e no outro... – tentou defender-se.

- Isso é mesmo de se estranhar! Eu também acho que estou me apaixonando de novo.

- Ah, deveras foi o sol do meio-dia refletido nas belas correntes de prata que ele tirou do portão e pendurou no pescoço! – soltou mais uma alfinetada, a de menor estatura.

Devo intervir. Mulheres não falam sempre sobre homens, numa conversa entre amigas, prioridades são suas aflições. É que esse grupo, em sua essência, exalava a paixão. Vigorava entre elas o desejo de se entregarem à causa, fosse ao amor ou à própria vida. Era também por isso que chamavam atenção.

De repente foram interrompidas pela garçonete, que trazia uma bebida, dizendo ter sido cortesia dos rapazes da mesa ao lado. Hesitaram, mas depois acharam engraçado e acabaram aceitando. Que mal teria? Seria só uma cerveja, além do que, elas se julgavam maduras o suficiente para perceberem que estavam sendo cortejadas e limitar até onde isso chegaria.

Bem, das cervejas aos petiscos, não demoraram muito. Dos petiscos aos pedidos de números de telefones e insinuações para união das mesas, menos ainda.
- A gente vai mandar a garçonete tirar as nossas cervejas da conta deles! – impôs alguma, com voz de leoa.

- Acho melhor a gente ir embora. Vai que eles são psicopatas.

- Tenha dó! Olhe para cara deles! Aquele com a blusa do Corinthians parece que escuta Justin Bieber ainda. E deixe as cervejas na conta deles. Quem mandou? Ficaram querendo ser bons...

- Lógico! A gente não pediu nada e sequer olhamos para eles. Iludiram-se sozinhos. Mas, vamos parar de aceitar o que eles mandarem a partir de agora.

Elas decidiram, eles não gostaram. Quando a primeira cerveja foi recusada, os rapazinhos não souberam como reagir, então agrediram. Do alvo de cobiça, rapidamente foram transformadas em um grupo de lésbicas. Parecia ser mais fácil para eles culpar orientação sexual, que assumir o fora, apesar de todas as suas ofertas.

Resultado, um grupo teve mais motivos e gargalhadas para uma nova reuniãozinha e o outro, o que queria constranger, acabou se sentindo acuado. É que mulheres que sabem o que querem, aceitam gentilezas de estranhos. Homens que não sabem, propulsionam mulheres a se encontrarem em happy hours.

*Republicação do site Revertério.com


(P.S.: E não posso deixar de citar minhas inspirações! Numa mesa de bar, com sorrisos e corações tão abertos... Andressa, Sâmia, Milenna e Bruna.)

2 comentários:

  1. Preciso dizer que amo, amo, amo e amo? Mesmo tendo ficado só no suco de laranja ("com gelo e sem açúcar, por favor") durante todo este ano. Happy Hour é Happy Hour, e mulheres quando se gostam... ah, elas se gostam! =)

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  2. E é recíproco, MES-MO!
    Com ou sem álcool!

    Um beijo, sua linda! (:

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