terça-feira, 16 de agosto de 2011

Os dois lados*

Ela:

Será que devo fazer uma massa? E a salada, crua? Talvez deva ver as verduras novamente, só por garantia…

O despertador ao lado da cama mostra que ainda não passaram das cinco da manhã. Não conseguiu dormir, apesar dos 46 tipos de chás diferentes que tomou, antes de se deitar e durante a madrugada. Se rende. Levanta, abre a geladeira e, pela milionésima vez, confere todos os ingredientes.

Talvez eu deva começar temperar o frango…

E lá está ela de novo, roendo as unhas da mão, enrolando uma mecha do cabelo com um dedo e com os pensamentos nele. Ele, ele, ele…

Ela está certa de que ele é o amor da sua vida. Ele quem propôs esse jantar e ela amou a idéia.

Faria um Pavê de frango, com uma receita que aprendeu num desses programas culinários que passam na tevê.

O sol começa a aparecer, o rosto da moça se ilumina com a beleza do nascer do dia.

Vai dá tudo certo!

No trabalho, o dia passa devagar. Aproveitou o horário de almoço para ir ao salão, não iria fazer nada demais, só uma escova de queratina, unhas dos pés e das mãos, ajeitaria as sobrancelhas, depilação de mel, uma limpeza facial, uma massagem corporal…

Acabou se atrasando para o serviço! Seu chefe não estava num dos seus melhores dias, se bem que a sua postura hostil e bossal eram características diárias, depois de quase hora de sermão, deu um xeque-mate, hora-extra!

Talvez se eu pular a janela lateral, além de uma perna quebrada, consiga chegar mais cedo…

A criatura perversa, que era o seu chefe e que talvez tenha ouvido seus pensamentos, determinou que ela concluísse os relatórios na sala dele, onde não havia janelas. Uma hora e meia de atraso, índice altíssimo de estresse e um engarrafamento. Não poderia ficar pior. Mas, ficou. Seu celular descarregou toda a bateria.

Ele:

Levantou-se ao meio-dia. Tinha conseguido uma manhã de folga, depois da conclusão de um bem sucedido projeto.

Fez a barba, tomou banho, ligou o computador, só para se atualizar, respondeu e-mails, verificou a sua página no Face e acabou visitando a página dela. Hoje iriam jantar juntos. Ela era bonita, divertida, lhe chamava atenção.

Ela é boa!

Trabalhou por quatro horas e foi para a academia. Na volta, deu carona a uma paquera, que malhava no mesmo horário. Ela tentou, ele resistiu. Alegou estar com pressa, e que iria ao seu apartamento numa próxima vez.

Achou isso estranho. Não era habitual.

Passou no mercado, comprou um vinho. Foi para casa, tomou banho, se vestiu.

Fora de área? Será que aconteceu alguma coisa? Ou vou levar um bolo?

Estava disposto a pagar para ver. Saiu.

Eles:

No fim, deu tudo certo. O frango cozinhou, a salada de folhas ficou bem vistosa, ela conseguiu se arrumar.

O romance até engrenou por uns meses, mas a vida não é uma novela, logo extrai os “felizes para sempre”.

Um dia, ele acabou aceitando o convite da tal colega de academia…

E o chefe dela acabou revelando que toda aquela antipatia, era uma paixão reprimida.


*Republicação do site Revertério.com - 28 de agosto de 2009

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